Quem disse que “não se pode ensinar truques novos a um
cachorro velho”?
Neuroplasticidade ou
remapeamento cortical é a capacidade do cérebro de modificar sua estrutura e
função, em decorrência de experiências anteriores.
Estas experiências podem ser
o processo de aprendizado, um trauma
ou lesão, devido o cérebro ser “plástico” e “maleável”. A descoberta dessa característica
é recente e desafia a crença anterior entre cientistas de que o cérebro não
muda após a infância.
Por meio de pesquisas científicas sabe-se atualmente que por
mais que o cérebro seja incapaz de se regenerar ele pode se organizar. Isso
pode ocorrer através da neuroplasticidade neuronal, onde novas conexões podem
ser feitas através de um rearranjo dos neurônios em estímulos adequados e
intensos.
"Mesmo que o cérebro não consiga reconstruir o tecido afetado ou perdido, ele é capaz de usar o que sobrou e modificar a
maneira como essas regiões restantes do cérebro são usadas. A base disso tudo é o uso. A reorganização funcional
do cérebro acontece quando existe demanda, ou seja, quando nós insistimos
em resolver um problema." HOUZEL (2010)
Neuroplasticidade
cerebral é um assunto que me chamou
bastante atenção em minha formação acadêmica. Interessei-me sobre este assunto ao estudar sobre os
sentidos. O estímulo maior foi através
da primeira tentativa de elaboração de um
artigo científico sugerido pelos professores. Escolhi o tema paralisia cerebral
grave após visitar uma instituição que atendia crianças nestas condições. Através
de entrevista semi - estruturadas encontrei meu objeto de estudo. Durante a
pesquisa de campo optei pelo estudo de caso. Comecei a observar uma criança que
me chamou bastante atenção. A criança antes de começar a chorar apresentava
crise de risos simultaneamente. Buscando
mais informações sobre esta criança, pude entrar em contato com os
profissionais e as cuidadoras que trabalhavam no local. O objetivo principal dos profissionais era
controlar as reações emocionais das crianças que estariam dando muito trabalho
para as cuidadoras. A alternativa utilizada seria trabalhar os
sentidos. A criança com paralisia
cerebral grave não pode correr ou fazer tudo que uma outra criança faz. O tempo
inteiro algumas delas permanecem acamadas e outras em berços com
grades para que não se machuquem diante da sua movimentação física.
“Paralisia Cerebral (PC) na
infância é conseqüência de uma lesão estática,
ocorrida no período pré, peri ou
pós-natal que afeta o sistema nervoso central em fase de maturação estrutural e
funcional da criança (WHO, 1999).
Pode ser considerado como um
distúrbio ou transtorno dos movimentos e da postura, que não regride e não
progride, e assim não se caracteriza como doença ou síndrome. Pode trazer
dificuldades nos movimentos, na locomoção, audição e visão do bebê. Mas em 90%
dos casos, a inteligência de que tem PC é preservada.
- A paralisia cerebral não é contagiosa
- A pessoa portadora da paralisia cerebral tem inteligência
normal, a não ser que a lesão tenha afetado áreas do cérebro responsáveis pelo
pensamento e memória. Se a pessoa portadora de paralisia tiver sua visão ou
audição prejudicada pela lesão, terá dificuldades para entender as informações
como normalmente são transmitidas; se os músculos da fala forem atingidos, terá
dificuldade para comunicar seus pensamentos ou necessidades. Quando tais fatos
são observados, a pessoa portadora da paralisia cerebral pode ser erroneamente
classificada como deficiente mental ou não inteligente. ( Trecho do artigo acadêmico)"
Na Instituição visitada, verificou-se que a fisioterapia entra como fator preponderante para auxilia-las no processo de
controle das emoções. A natação e o uso de buchinhas e outros materiais que as auxiliem na percepção dos
sentidos seria uma forma relevante de alcançar o objetivo. O investimento na percepção dos
sentidos seria a porta de entrada da psicologia que entraria estimulando a
criança a achar um meio de se comunicar. A comunicação, então, seria aprendida através do processo de neuroplasticidade cerebral, ou seja, as crianças seriam levadas a trabalharem partes do cérebro que ainda não estivessem lesionadas e com isso descobrirem em seu corpo partes que pudesse ajuda-las na comunicação.Quando se trata de paralisia cerebral grave, a fala e outras partes do corpo se tornam comprometidas. A emoção dessas crianças é real e para auxilia-las tais profissionais tendem a investir na possibilidade que o próprio corpo ainda oferece para tentar aliviar o sofrimento delas.
No trabalho de observação percebíamos que algumas
crianças se comunicavam através do
olhar, outras através de um carinho ou toque na testa, na barriga, no rosto ou
qualquer outra parte do corpo que as fazia reagir de forma a leva-las a se
sentirem melhores. Aparentemente, para qualquer pessoas que visita crianças com
paralisia cerebral grave, talvez achem que elas não tendem a perceber a
presença ou os acontecimentos do ambiente, entretanto, entendendo um pouco mais
sobre o que é a neuroplasticidade e suas implicações nas ações e reações do ser
humano com o ambiente, pode-se entender que estas crianças podem apresentar uma percepção
bem aguçada do ambiente e das pessoas que as circulam. Tais percepções podem
ser estimuladas determinando reações. Entende-se
, então, que o ser humano percorre todo o corpo humano para conseguir se
comunicar e que o cérebro detém mecanismos para facilitar o processo. Desta forma, mesmo com paralisia cerebral grave , a criança
não deixa de apresentar um talento ou potencialidade.
Observa-se que em instituições que recebem criança com paralisia cerebral grave, existem crianças que chegam, por exemplo, rejeitando o
toque. Na Instituição visitada, no trabalho da fisioterapia e da psicologia, muitas delas conseguem o caminho da
comunicação através do estímulo dos sentidos na tentativa de auxiliá-las a descobrir em qual deles ela poderia utilizar
para se comunicar. O trabalho na piscina e a presença de música no ambiente seria também um dos recursos utilizados para tal finalidade. O estimulo a socialização também predomina. A carência e presença
de pessoas que as visitem sempre foi muito marcante para as crianças segundo os
profissionais e as cuidadoras, sendo de grande valia para o trabalho dos
profissionais. Elas sentem uma necessidade muito grande de receber visitas.
Para
exemplificar, durante o momento da investigação do caso, pudemos presenciar como o processo de neuroplasticidade
cerebral estaria acontecendo. O fisioterapeuta ao atender uma criança informou
que ela havia aprendido a gostar de ser tocada. A criança rejeitava o toque e
no decorrer dos estímulos recebidos aprendeu a se comunicar através dele. Ela não
havida recebido por parte dos pais nenhum estimulo de carinho ao nascer.
Estimulando os sentidos, as crianças entendem que podem se comunicar. Acompanhar uma pessoa através do olhar e dar um sorriso seria um dos progressos alcançados pelas crianças. Outras haviam entendido que a audição lhe trazia um determinado prazer de ouvir música a ponto de sempre chorarem para estar perto do rádio. Um fato curioso observado é as cuidadoras faziam o papel de mãe conhecendo com maior profundidade a necessidade individual de cada criança e a forma de lhe dar com elas quando em crise, pois além da paralisia ainda tinha o fator emocional sendo tratado por psiquiatra. Foi
a partir do contato com as crianças que compreendi um pouco mais sobre a
neuroplasticidade cerebral e percebi que poderia estudar mais sobre os sentidos
e suas implicações nas emoções . Percebi
que o estudo deste assunto é escasso e que há muito o que fazer em pesquisas e
em trabalhos para favorecer ou tentar trazer maior alívio neste tipo de limitação existe em crianças e adultos.
A neuropsicologia
esclarece melhor sobre o funcionamento do cérebro, trazendo uma maior compreensão sobre o
distúrbio neuro-motor severo , tal como a paralisia cerebral e como poderia ocorrer o processo de neuroplasticidade
cerebral.
Entender
sobre neuroplasticidade neural, não significa que ela possa ocorrer apenas em
processos patológicos, podendo assumir
um papel muito importante no funcionamento normal do sujeito. A característica do SNC (Sistema Nervoso
Central) é de ser consideravelmente
plástico durante toda a vida em situação patológica ou não. Verifica-se que o cérebro
tende a sofrer alterações o tempo inteiro e por isso sugere-se maiores estudos
para compreender a complexidade de seu funcionamento.
Referência:
As
implicações do sensorial no emocional a partir de estímulos em crianças com
paralisia cerebral (Artigo acadêmico)
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