terça-feira, 21 de maio de 2013

Um detalhe








"Poder  alcançar coisas e lugares que quase ninguém pode ir para atender um sonho  é um ato de coragem!"  helena




Lembro-me do primeiro dia que entrei na faculdade. Me sentia como um ET. Os professores falavam coisas pouco compreensíveis ao meu entendimento. Até que certo dia, uma professora pelo qual me agarrei na busca do saber disse que para melhor compreensão seria necessário não abrir mão da leitura. Com a leitura nosso cérebro se acostumaria com a nova forma de conhecer o conteúdo ministrado. Quando chegou a parte de escrever um texto sobre determinado assunto, quase tivemos um "ataque". Além da dificuldade de expressar no papel o que sabíamos, o mais difícil seria conseguir chegar ao nível do conhecimento que o professor estaria oferecendo a nós alunos. A minha ansiedade era insuportável e o tempo não favorecia.  Foi neste momento que alguns mestres começaram a pedir a cada um de nós que ao invés de escrever, pudéssemos falar  sobre a matéria ou opinar sobre as alternativas para que pudéssemos dar maior vazão a nossa sede de continuar seguindo no curso. Espaços eram abertos e construídos para que pudéssemos buscar o que estaria sendo oferecido. O início foi difícil é o "querer muito" uma primeira opção. 

 A nossa mania de escrever durante o momento de uma exposição de aula, praticamente estava sendo extirpada de nossas vidas  por alguns professores sem que percebêssemos  Escutar e entender para depois passar para o papel seria uma das fórmulas ideais no processo de aprendizagem. Meus olhos brilhavam quando via alguns professores conseguirem falar tantas coisas em uma frase! Me perguntei e ainda me pergunto mil vezes como fazer para construir frases perfeitas e de fácil compreensão. Mas nem todos os professores eram assim. Alguns me chamavam atenção neste pequeno detalhe no processo de ensinar. 

Foi pedido que pegássemos um artigo e tentássemos resumi-lo em duas paginas apresentando-o individualmente para a turma. Inicialmente o medo de não conseguir era nítido em nosso semblante além da falta de tempo que não colaborava. Mas isso foi muito pouco diante da elaboração do ultimo trabalho de curso. A leitura era fundamental todos os dias para a elaboração de um artigo que seria apresentado para uma banca com pessoas que não conhecíamos e que conheciam sobre o assunto.  Se tivéssemos seguido as orientações de alguns professores ao fato de ler sobre algum assunto desde o início do curso, talvez o aperto não teria sido tão grande.  Falo que foi o último e pior momento da faculdade, mas mas prazeroso e compensador porque a matéria e o interesse em aprender  foi maior. A minha primeira professora me disse uma frase que nunca me esqueço: "Helena, para conhecer, você não precisa sofrer. Não tem necessidade disso!" Entendi, com ela, que aprender não é sofrido e pode ser prazeiroso. No decorrer dos anos fez real sentido. Marcou minha história. Não me esqueço que esta professora teve um papel importantíssimo nos meus primeiros passos. Em três meses de curso já havia me ingressado  em tratamento psicoterápico e neste processo, várias vezes saindo do consultório,  ao entrar dentro da sala de aula, vinha esta professora ministrando na disciplina curricular o mesmo assunto que eu estaria tratando com minha terapeuta em consultório . Tal professora nunca soube deste fato. Quando alguém descobre que um psicólogo faz terapia se espanta e pergunta porque também passamos por este processo. Existem psicólogos que deixam esta ferramenta de lado. A terapia nos ajuda a ter um norte interno para lhe dar com o paciente e nos ajuda em vários momentos na profissão e na vida pessoal. A estudo é importante, entretanto, a terapia também precisa ser uma aliada no processo de formação do profissional de psicologia. Quanto mais se estuda e aprende, maior responsabilidade se adquire além de uma maior autonomia para conviver com as pessoas. Quando você lê e sabe da importância de algum assunto, você começa a tomar atitudes e a tentar resolver questões que não consegue sozinho. 

A leitura é fator preponderante para quem está iniciando e se torna uma responsabilidade para a formação profissional. Esta era uma das teclas mais batidas pelos professores durante toda a formação.É debruçando em cima dos livros  que você vai construindo sua formação. Saber escrever e interpretar é algo importante para quem quer seguir o rumo pelo qual a psicologia indica. Houve professores que muitas vezes largavam algo que estavam ministrando para falar deste assunto. Hoje compreendo como que foi valioso "perder" minutos da aula para uma conversa aberta com quem já estaria na área e sabia muito bem como seria o mundo aqui fora para o psicólogo. Não foram minutos perdidos mas ganhos e que valerão por toda a vida. 

Tenho saudades das aulas e do ambiente acadêmico. Lendo isso aqui, um professor pode se dar satisfeito, pois comigo a tarefa foi cumprida. Um psicólogo dando aula é diferente porque ele interpreta a aprendizagem como um todo e entende que a afetividade é um elemento importante para a transferência de determinado saber. Lembro-me que existiam aulas que as cadeiras eram postas sempre em círculos e que os debates calorosos sobre algum filme ou matéria, vinha recheada das experiências individuais e acadêmicas. Era muito engraçado ouvir as reclamações de alguns alunos quando o professor parava para ouvir a experiência pessoal de um colega diante da matéria vista. Após um longo tempo viemos a descobrir que estas escutas em sala de aula se tornariam posteriormente o que faríamos dentro de um consultório. A escuta é a ferramenta mais preciosa que o psicólogo tem. Não apenas escutar mas a interpretação ou a forma de entender como aquela informação esta chegando e para que ela está sendo colocada ali. Hoje, compreendo que tudo que vivenciamos no mundo acadêmico, mesmo sendo doloroso inicialmente, é proveitoso. A apresentação de trabalhos foi nos soltando e com o tempo percebíamos que aquelas dificuldades iniciais não mais faziam parte de nossa realidade. Pós faculdade, considero que minha visão é muito diferente do dia que me coloquei para fora , após cinco sagrados anos de estudos ininterruptos, sem feriado ou finais de semana. 

Penso que ensinar é uma tarefa árdua. Após um tempo fui compreender como é difícil alguém diminuir sua frequência no conhecimento para alcançar alguém que desconhece sobre determinado assunto. Diante de uma pessoa leiga, você não pode adotar uma linguagem pelo qual ela  não tenha condições de compreender, ou seja, não pode passar na frente diante de um processo que precisa acontecer naturalmente, caso contrário , não há motivo da psicologia existir. Conselheiros o mundo está cheio e a psicologia não se presta a este tipo de trabalho.  

 Uma das lições mais sagradas que pude entender no acadêmico, foram os atendimentos. Experiencia,  que praticamente trouxe amadurecimento e compreensão melhor sobre o que seria atuar como psicólogo e como você precisa utilizar deste mesmo mecanismo sem atropelar o tempo do outro. Dizem que o psicologo apresenta condições de perceber  o que a maioria não percebe. No decorrer dos anos somos adestrados a entrar em situações e estimulados a não desistir de um caso que aparentemente seja apresentado como impossível. 

Quando fui jogada na sociedade pós faculdade, tenho percebido com mais intensidade sobre a visão que as pessoas tem sobre a psicologia. É algo muito ilusório e que as vezes me espanta. Quando você chega em algum lugar e descobrem que você é psicologo ou faz o curso, o pessoal te enxerga como alguém diferente da turma. Isso me incomodava durante minha formação e tem me incomodado muito mais agora. Fico imaginando do porque as pessoas entendem a psicologia desta forma e como se comporta diante dela, inclusive nós mesmos que somos profissionais formados. Que cara estamos mostrando ou o que esta sendo mostrado sobre ela que fazem algumas pessoas terem uma percepção tão distorcida sobre a coerência que ela traz quanto ciência e profissão. Penso que existe um espaço entre ser psicólogo e estar psicólogo. Uma vez, ouvi um professor pelo qual tenho um carinho muito grande dizer que "estaria tendo medo de que pudessem acabar com a psicologia" e que os fatos observados até então estaria levando a esta realidade. Hoje compreendo o que ele quis dizer.  Existem coisas que me entristecem diante de colegas de profissão e outras que me sinto orgulhosa de ver. Considero que a Psicologia sempre será a Psicologia e o psicólogo em si apenas tende a ser alguém que estuda sobre o assunto e aplica em algum lugar diante do prazer de exerce-la profissionalmente e ter sua renda de sobrevivência ou não. Há profissionais e profissionais em todas as áreas, entretanto, a forma individual que cada um prossegue profissionalmente vem mais da sua formação pessoal e investimento para algum interesse. Minha marca foi registrada e no meu sangue vou seguindo a vida com ela, lembrando sempre que além de mim , existe uma multidão de coisas ainda a serem exploradas, aprendidas e conquistadas. Considero que na formação de valores do que foi me passado por alguns mestres comprometidos realmente com a profissão, em sala de aula, é o que me alivia em algumas circunstâncias. Cai a ficha de que ser psicólogo é muito mais do que ser alguém com um diploma e uma  profissão. É uma ciência que merece ser preservada e alimentada por bons profissionais. 

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